Noite da Mouraria

BARES AGITAM A NOITE DA MOURARIA

 

Um bairro tranquilo, sem muita movimentação e, alguns até arriscariam dizer, silencioso. Assim define-se a Mouraria, no centro de Salvador, um bairro familiar e agradável para se viver. Mas o que, durante o dia, se caracteriza por ser sossegado, à noite transforma-se em um atrativo para estudantes que saem das suas faculdades, trabalhadores ao final de serviço, casais que saem para jantar, e até mesmo grupos de amigos que se reúnem para assistir o jogo do Tricolor ou do Leão. Cadeiras dispostas no antigo chão de paralelepípedo e mesas servidas com pastéis, lambretas e cerveja gelada caracterizam a animada e singular noite da Mouraria.

Famoso por ser a antiga sede do bloco do carnaval de Salvador “Os Internacionais”, o Bar Koisa Nossa existe há pouco mais de 30 anos. Especializado em frutos do mar, seu carro-chefe é a lambreta. O bar, que antigamente ocupava apenas um pequeno espaço da rua, hoje toma toda a esquina da travessa Engenheiro Alioni com a Rua da Castanheda. Dirigido por José da Cunha, um simpático senhor que não tem muita intimidade com as câmeras, o Koisa Nossa atrai um público variado que abrange desde turistas estrangeiros até antigos moradores locais.

O happy hour depois do trabalho já é tradição no bar, por isso a disputa por mesas é mais acirrada durante a semana. Trabalhadores e estudantes começam a ocupar seus lugares a partir das cinco da tarde e, até a sexta-feira, o bar, por vezes, funciona até as duas da manhã. Nos dias de jogo do Campeonato Brasileiro ou da Seleção Brasileira, o movimento aumenta razoavelmente. Epaminondas Martins tem 50 anos é advogado e frequentador do bar há 30. Torcedor do Bahia, ele mora, nasceu e foi criado na Mouraria. “Antigamente a Mouraria era um bairro familiar, hoje está muito antigo, com muitos idosos e infelizmente, há um grade comércio de drogas”, declara Epaminondas enquanto assistia a um jogo do time rival do tricolor e apostava uma derrota do Vitória com os amigos de longa data, também frequentadores do bar.  Sem dispensar uma cuba livre e seu prato preferido, o bacalhau, Epaminondas se sentava ao lado do atual dono do bar, o apelidado “Zé da Mouraria” e engatava conversa com todos os garçons amigos. “Frequento o Koisa Nossa porque é o melhor, sou amigo do todos os donos que já passaram por aqui”.

Epaminondas, morador da Mouraria e frequentador do Koisa Nossa.

Em relação aos outros bares da região, como o Bar do Alcindo e o Lambreta.com, o Koisa Nossa é um pouco mais caro. Uma dúzia de lambretas sai por R$11,90, e o preço dos pastéis varia entre R$6,00 e R$11,00. A garçonete Flávia dos Reis, 40, trabalha há 6 anos no bar, de cinco da tarde até a meia noite. Aos sábados, seu turno começa um pouco mais cedo, ao meio dia. Apesar de considerar o aratu como seu prato preferido, Flávia já conhece a preferência do público: “As pessoas vem ao bar para comer a lambreta, nosso prato mais famoso”, comenta ela, sempre muito simpática e disposta a atender com qualidade.

Outra atração noturna da Mouraria é a tenda da “baiana” Jussara de Oliveira, onde é servido o típico acarajé ou abará acompanhado de salada, camarão seco, vatapá e pimenta.

Dona Jussara e seu acarajé.

Dona Jussara, de 53 anos, vende acarajé há mais de 20, e há 10 anos, resolveu mudar seu ponto da Piedade para a Mouraria. “Esse bairro é uma maravilha! É muito tranquilo, sabe? O movimento é bom, o público é diversificado, adoro trabalhar aqui!” diz a comerciante. Sobre a violência nos arredores do bairro e o perigo de voltar tão tarde, ela diz: “Voltar tarde não é problema, vou sempre de táxi então não me preocupo tanto com a violência. O que me preocupa mesmo é a Prefeitura que quer tirar os bares e ambulantes da Mouraria. É tanta gente que não quer nada da vida, e todos aqui querem, trabalham duro, a prefeitura não pode deixar todo mundo desempregado!”. Jussara trabalha de terça a domingo, das 17h30 até a meia noite.

Dona Jussara servindo abará com camarão.

É possível notar, também, a presença de alguns ambulantes no bairro durante a noite. Eles circulam pelas mesas oferecendo amendoins, queijo assado na brasa e, até mesmo, CDs piratas. A proximidade dos bares com Quartel General do Comando da 6ª Região Militar dá mais segurança aos frequentadores da região, mas, a desatenção é um risco, pois os moradores consideram o bairro, atualmente, mais perigoso do que ele já foi há um tempo. Apesar das ponderações, nenhuma circunstância pode tirar a beleza da noite da Mouraria. Um pastel de siri ou um prato de polvo à vinagrete podem ilustrar uma passeio inesquecível que deixará boas lembranças e uma vontade de repetir.

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